Vem aí o Dia das Mães. É delas o mais eficiente instinto de proteção aos pequeninos, a começar por seus filhos. Ninguém melhor para nos inspirar no socorro à vida inocente no útero, que segue ainda cercada de perigos, a exemplo do aborto.
Lamentavelmente, até por falta de informações, há quem proclame como aceitável esse "blecaute nos trilhões de células do organismo da gestante", como bem ilustra a especialista Lilian Piñero Eça, doutora em Biologia Molecular. Além de não darem relevância aos problemas físicos, psíquicos e espirituais, que podem ser irreversíveis na estrutura orgânica feminina, ficam alheios ao silencioso grito de dor da vida que principia.
Ao falar à Boa Vontade TV (canal 23 da SKY), a dra. Alice Teixeira Ferreira, médica e professora livre-docente do Departamento de Biofísica da Universidade Federal de São Paulo, assegura que "a vida se inicia na fertilização do óvulo pelo espermatozoide. Então, se forma no primeiro dia. (...) A partir desse ponto forma-se um ser humano caracterizado pelos seus 46 cromossomos, metade vinda do pai e metade vinda da mãe, mas ele é totalmente diferente do pai e da mãe. Ele tem um genoma que lhe é específico e irreproduzível. (...) Não tem base científica nenhuma essa história de que só é ser humano na hora que forma o tubo neural, aos 14 dias. É um absurdo. (...) Cada vez se acumulam mais e mais evidências de que o ser humano se inicia na concepção".
Fica esse alertamento da dra. Alice, por sinal em consonância com o juramento de Hipócrates, que igualmente prescreveu o respeito à vida uterina.
As mães e os filhos das mães
No opúsculo “Mãezinha, deixe-me viver!”, 1989, anotei que – atravessamos época de transformações profundas. Daquelas que pesado tributo pagam ao exagero. É o vale-tudo. Nem as mães escapam. Chegou a ser de “bom gosto”, para alguns, falar-se mal delas... Certo pessoal anda mesmo é querendo ser filho da máquina, a boa senhora do computador... Eis a civilização do absurdo, que tanta coisa deseja, sem saber o que realmente quer. “Vade retro”! Freud explica... Explica?! Porém tudo se altera e passa.
Lembro-me de que quando criança existiam bondes. (E como era romântico andar nas horas mortas... No “rush”, não!) Havia uns pequenos cartazes, que diziam assim: “Tudo na vida é passageiro, menos condutor (o cobrador) e motorneiro” (digamos, o motorista do praticamente extinto veículo elétrico, que as novas gerações não conheceram). Agora a gente vê que até aquelas duas figuras, hoje folclóricas, também eram passageiras. Enganou-se, pois, o marqueteiro...
Mas voltando ao assunto: sacudida a Árvore Sociedade, caídos os galhos secos, as folhas murchas, os frutos podres, que impediam seu correto desenvolvimento, a planta sempre rejuvenesce, torna a florescer. É a vitória da vida, o sucesso do bem. Tudo passa, realmente passa, menos o Amor. Por quê? Ora, por quê! Deus é Amor, e “nada existe fora Dele”, afirmava o libertário Alziro Zarur (1914-1979). Quem declarar, então, que não quer ser amado (ou amada) está doente ou mentindo, o que resulta no mesmo.
Pensam que mãe não tem rima? Será?! Então secou-se-lhes a musa, ou saiu em férias... Mas não semelhantemente à famosa experiência de Guerra Junqueiro...
Por falar no velho Guerra (1850-1923), contam que o episódio foi assim: o respeitado poeta português foi ao médico. Não sabia o que lhe cansava os ossos. O clínico, depois de examiná-lo com paciência, prescreveu ao cliente: “– Professor, o senhor não tem nada físico que um bom descanso não corrija. Viaje. Não faça nada, nem escreva, e tudo acabará bem. Pode confiar”. O vate prometeu que assim o faria. Contudo, o que houve foi o seguinte: quando voltou do “descanso”, trazia um dos seus mais belos feitos para um novo livro: “A musa em férias”.
Amor faz rima perfeita com mãe. Mãe é eterna também.
José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta.
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